52 ANOS DA GUERRILHA DO ARAGUAIA * Raul Carrion/RS

52 ANOS DA GUERRILHA DO ARAGUAIA
Raul Carrion
12.04.24

Há exatos 52 anos, em 12 de abril de 1972, na região do “Bico do Papagaio” – confluência dos Estados do Pará, Maranhão e Goiás (hoje Tocantins) – teve início a luta guerrilheira do Araguaia, que durante quase três anos desafiou a ditadura terrorista dos generais e encheu de esperança os corações de homens e mulheres, que resistiam ao fascismo e lutavam por um Brasil de liberdade, soberania e justiça.

Diferentemente da visão foquista, a Guerrilha do Araguaia foi orientada pela concepção de “guerra popular”, adaptada à realidade do Brasil, onde necessariamente a luta urbana teria de desempenhar um papel destacado.

A sua preparação iniciou já em 1966, quando os primeiros militantes do PCdoB – como o gigante negro Osvaldão, um dos comandantes da guerrilha – chegaram à região e ali se estabeleceram como castanheiros, agricultores, garimpeiros, comerciantes e até médicos, mantendo estreitas relações com a sofrida população da região, ajudando-a em suas dificuldades e necessidades.

Pouco a pouco, outros militantes – entre eles treze mulheres – foram deslocados para o Araguaia.

A maioria eram jovens, mas lá também se encontravam veteranos como João Amazonas, Maurício Grabois, Elza Monnerat, Ângelo Arroyo, Paulo Rodrigues, Huberto Bronca e outros.

Os testemunhos são indesmentíveis do carinho que os moradores da região tinham por eles e os estreitos vínculos que os futuros guerrilheiros estabeleceram com a população do Araguaia, apesar das dificuldades impostas pelo regime ditatorial que existia no país.

Só isso explica o fato de o movimento guerrilheiro ter conseguido resistir a três campanhas de cerco e aniquilamento da ditadura – incluindo tropas do Exército, Marinha e Aeronáutica, além das Polícias Militares dos três Estados –, totalizando dez mil homens, com o apoio de especialistas em contraguerrilha dos Estados Unidos e de Portugal.

É preciso dizer, também, que a preparação da guerrilha ainda estava em andamento, quando os militares investiram contra a região, forçando-os a iniciarem a resistência.

Apesar do heroísmo dos combatentes da Guerrilha do Araguaia – aos quais se incorporaram camponeses e moradores da região –, o poderio bélico dos efetivos militares lançados contra eles acabou prevalecendo e, após quase três anos de luta, a resistência guerrilheira foi derrotada.

Mas o seu sacrifício não foi em vão, assim como o de milhares de brasileiros que, por lutarem por liberdade e justiça, foram presos, torturados ou mortos. Com a sua luta, semearam a revolta e abriram caminho para a derrota dos generais terroristas.

Nessa data emblemática, quando também se registram 60 anos do golpe militar, homenageio todos que enfrentaram à ditadura terrorista dos generais, compartindo um trecho de um poema para João Amazonas, de lavra do poeta e dirigente comunista

LAREIRA DA LIBERDADE

Houve vez, épocas terríveis,
Que era inútil o fogo,
A escuridão se alimentava da luz.
A serpente era tão perversa
Que, certa vez, para enfrenta-la,
Além dos olhos gastos de leitura,
Mais do que os dedos calejados
De empunhar a pena,
A história exigiu
Que se empunhassem fuzis.
Então mãos veteranas
E juvenis
Embrenharam-se na selva
Amazônica,
A cidade encontrou-se com o campo.
E na escuridão da ditadura
Foi aberta uma clareira,
Uma lareira de liberdade.
Por quase três anos,
O Araguaia virou uma estrela
Que emitia sinais de luz.
Custou muito sangue,
Mas o seu brilho
Incutiu na alma brasileira
A certeza de que Roma
Cairia mais uma vez.

Adalberto Monteiro
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